Coletânea de textos escritos sob forte inspiração sinestésica... a maioria em forma de crônica! As emoções inspiradoras de cada texto foram expressas fielmente nos momentos das escritas, porém, ao longo do tempo, ideias, opiniões e sensações sobre os assuntos podem ter sofrido metamorfoses. A liberdade do pensar e expressar prevalece na escrita, sempre!
Na série arquivos históricos, vou postar coisas que escrevi em tempos anteriores, coisas estas que, devido a minha grande [des]organização se encontravam em papeis avulsos, algum pedaço de papel esquecido lá no fundo da gaveta... naquela folha daquele caderno velho... enfim.
Sinto-me como que em outra dimensão, um turbilhão de sentimentos agita minhas entranhas quando, ao som do Adagio de Albinoni, vislumbro o nascer da lua, numa cor quase púrpura... surgindo das trevas da noite no horizonte. Ela surge linda e hipnotizante, me fazendo transcender por alguns minutos a algum lugar desconhecido, onde só o que importa é o ser sinestésico.
Desloco-me para um possível futuro, onde encontro-me em um momento de reverência... um funeral... de uma pessoa que amo com um amor tremendo, um amor ágape.
A melodia soa enquanto vejo o caixão descendo ao sepulcro, branco... Coberto com lindas flores... O rosto pálido... Sorriso sereno... Surge um grande aperto em meu peito, e um vazio... Um vácuo... Como se meu coração houvesse sido arrebatado... Restando apenas o vazio.
Meus olhos lacrimejam ao sentir fisicamente a dor de uma perda, perda de uma pessoa querida... o caixão desce lentamente... a paisagem é de desconsolo.
Ao sentir os olhos cheios de lágrimas, embalado pelo lindo Adágio, volto a olhar pela janela o satélite da terra, agora numa tonalidade alaranjada... Subindo lentamente na escuridão... Percebo então que a cena fúnebre fora criada pela imaginação... Talvez uma visão de um futuro... Prefiro crer que seja fruto da mente, devido a um pedido especial da pessoa que na progressão sucumbia na terra dentro de um caixão, que tal melodia fosse o tema do seu funeral.
Experimento diversas sensações inenarráveis... Enquanto a lua sobe e torna-se amarelada, o nó contido em meu tórax se desfaz.... O vazio some à medida que a lua clareia... A lua no seu quarto minguante lembra um lindo e largo sorriso, agora numa tonalidade cristalina... Imponente... Tomando seu lugar de rainha da noite... Iluminando as trevas e me fazendo sentir medíocre diante do seu esplendor.
Fico a contemplar seu sorriso luminescente sem nem uma palavra.... Nem um pensamento... Apenas a reverência e agora o preenchimento no meu peito de um sentimento de felicidade, de gozo, de êxtase, pareço estar em estágio Alfa... Ainda flutuando em uma realidade espiritual pouco compreendida.
Já não a vejo mais pela minha janela, está se dirigindo ao cume do céu negro... De forma repentina sou arrebatado de volta ao meu corpo e surge um pensamento que me traz humildade espiritual...
Ela... Linda... Parecendo um cristal... Esplendorosa... A dama da noite ilumina a tudo e a todos, embora falte algo.... O outro quarto da lua para que ela esteja cheia... Completa!
Observando-a neste estado lembro-me que também me falta algo para que me sinta completo.... Existe um vazio que, assim como na lua, em algumas fases é revelado, provavelmente este vazio seja originado da abstinência química dos compostos liberados naturalmente quando amamos verdadeiramente, aquele frio na barriga... A ansiedade... A saudade... Percebo que tal falta se faz necessária... assim posso sonhar... esperar... sobra espaço para observar as coisas simples e rotineiras, como o nascer da lua... O acordar... O respirar... O abraço apertado... O olho no olho... O beijo... Tais coisas foram feitas fúteis por nós... Humanos medíocres, sem amor, sem tempo e sem empatia.
Oxalá que em todos surja um vazio, pois neste vazio a razão cede e a sinestesia aumenta, tornando-nos sensíveis ao ponto enxergar que tempo e espaço são inconstantes... e que apenas o passado não pode ser alterado, sendo-nos permitido apenas visitar como espectadores.
Na tristeza e na solidão somos solidários, pensamos no próximo, sentimos uma falta... Talvez a falta de doar mais amor incondicional, de ser mais empáticos.
Que possamos ser como a lua minguante, que apesar de não estar completa, ilumina a todos e aguarda paciente o tempo certo do que a completa, e enquanto espera, doa. Que possamos ser filtrados a cada dia como a cor da lua é filtrada a cada instante, à medida que evolui no céu, iluminando cada vez mais, passando do quase púrpura ao branco-azulado.
Aguardo o próximo nascer da lua, púrpura... dilatada... e linda!
Igor Monteiro
Foto: Igor Monteiro - Registrada na data e momento da inspiração do texto
Salvador, 19 de outubro de 2007 – 02:42 am.
Falta-me o sono! Apesar de sentir o relaxamento do meu corpo sobre a cama, as pálpebras pesadas, os olhos ardem, mas não consigo parar de pensar. O pior é que não penso em um assunto específico, meus pensamentos parecem estar em um oceano no meio de uma tempestade, numa tormenta... Ouço o silêncio e o ruído da madrugada com um vazio no peito. Justamente este vazio que me incomoda, pareço oco, não sei o que me falta... Talvez tenha perdido algo que habitava dentro de mim. A razão diz que Deus está comigo, mas a emoção já não O sente, sim... já senti Deus dentro de mim.
Desejo ter alguém que me faça sentir uma compulsão de ligar para ouvir a voz... de escrever cartas de amor...de simplesmente sentir que tenho alguém. Não é de uma pessoa específica que sinto falta...creio que sinto falta de amar alguém. Já amei alguém e pude experimentar o doce gosto do fel, o sofrimento que alegra, a compulsão de amar! Sim, isto que me falta, o Amor! Não o amor de alguém para mim, mas o meu amor por alguém. Os olhos já pesam mais. Vou deitar e relaxar o corpo, e descansar os olhos, mas vazio! Será que serei capaz de amar novamente? Só o tempo dirá.
Tenho a certeza de que posso ter quem eu quiser... conheço as ferramentas da sedução, embora não me agrade usá-las sempre, não nasci para isso, para ter muitas mulheres. Quero apenas a que me fará tremer as pernas, a que fará minhas entranhas remexerem e meu tórax se encher novamente.
Nasci mais para amar, embora deseje ser amado com a mesma intensidade e, a única certeza que tenho é que se não for capaz de amar novamente, não serei capaz de ser feliz.
03:02 da madrugada, tentarei dormir e esquecer do vazio no peito, pelo menos até a próxima noite.
Igor Monteiro
São exatamente 03:58 da madrugada de 28 de fevereiro de 2008, o sono não me acha, aliás... tanta coisa não me acha... Ao olhar pela janela contemplo os sons da madrugada, cercada com uma atmosfera misteriosa, temerosa, vazia. Nada de buzinas, máquinas, carros... apenas o som do forte vento lutando contra a estabilidade das folhas das árvores... imitando a chuva!
Na madrugada, ou melhor, no silencio da madrugada é quando consigo escutar com melhor precisão os meus sentimentos. Sim, eles gritam em meu universo interior, no vazio que sinto esta noite. Um sentimento lúgubre, onde os medos se expressam e a esperança sucumbe. Já fui traído pela esperança, e isto foi a gênese de mais um de meus muitos medos inexprimíveis. Neste momento parece que até a fé me abandonou...me deixando a sós com a madrugada e o som do vento nas folhagens... nesta atmosfera misteriosa e aterrorizante.
Ah... Quisera eu entender os meus próprios sentimentos... meus medos... Neste momento vejo a minha fraqueza, creio que minha única fraqueza, uma vulnerabilidade sentimental que me torna submisso. Ó esperança, por que me abandonastes neste instante? Ó fé, por que enfraquecestes?
Medíocre sou eu neste instante, sem fé... sem esperança... sem amor. Apenas existindo... sem razão... sem por quê.
Estaria eu sonhando? Seria a vida um sonho, e os sonhos o céu? Talvez... nos sonhos somos deuses... onipotentes... oniscientes... onipresentes... Queria eu que ao menos o sono viesse me beijar neste momento, para que eu virasse deus no meu paraíso... eu, na minha onipresença, já teria endereço certo a visitar nesta madrugada. Visitaria o leito da mulher que até o momento tem me feito ter fé na esperança, ela que me fez encontrar a renascença sentimental...Acariciaria seu rosto com minhas mãos divinas, afagaria seus cabelos... velaria por ela, contemplaria o seu sono como quem contempla um tesouro.
Neste momento surge o medo. Estaria eu apenas momentaneamente a amar? Seria novamente traído pela esperança? Ou pior... seria traído pelos meus sentimentos? Temo a extinção repentina deste amor, temo a não reciprocidade... temo me machucar novamente, pois, se isto ocorresse certamente o meu lado mais sublime, desapareceria, me endureceria de tal ponto que talvez não fosse capaz de amar e esqueceria como ser amado. Me analisando neste momento percebo que não há sentimento algum senão o medo. Amor, Esperança e Fé, a trindade que justifica a vida, e neste momento as três me desampararam... assim como o sono. Não sinto o amor...não tenho esperança nem fé e nem consigo me endeusar no paraíso dos meus sonhos, pois a falta de sono me aprisionou aqui, nesta madrugada silenciosa e vazia.
Já são 04:35 da madrugada... deitarei meu corpo na súplica pelo sono, onde serei deus por alguns instantes, e sendo deus poderei ordenar que a fé e a esperança voltem a habitar meu ser... e com a fé e a esperança em mim sentirei o amor... ao menos no sonho.
Igor Monteiro
Tinha em mente nesta madrugada escrever sobre algo que amedronta quase a totalidade das pessoas - a Morte. Pensando neste tema tem uns dias, mas como o impulso cardíaco interior ainda não atingiu o pico máximo digno de escrever aqui, ainda não dissertei sobre ela, talvez ainda não seja a hora.
Mais uma vez os pensamentos, os sentimentos e a busca pela sabedoria me direcionaram a buscar mais sobre algo que não compreendemos... algo que não é o velhinho de barbas brancas sentado nas nuvens nem a grande deusa, mas é algo que está acima da coroa da árvore da vida, algo que nos rege a cada instante, porém não ouvimos, ou quando ouvimos, ignoramos sua "voz" por causa de nossos preconceitos morais/religiosos/sociais.
Preconceitos estes que nos fazem ficar afastados do próximo por causa de sua aparência ou atitudes incompreendidas e desrespeitadas pela dita sociedade. Temos que estar sempre dentro dos padrões, sejam eles quais forem... qualquer corajoso que fuja dos padrões pré-estabelecidos (sabe-se lá por quem) é imediatamente inferiorizado e excluído.
Aguardando o ônibus pra retornar a minha cidade depois de ter trabalhado no mar (e recebido ensinamentos da natureza física e cosmológica), vi na pequena rodoviária do Conde dois hippies [dreads nos cabelos, roupas simples, tatuagens, pulseiras, tornozeleiras...] fazendo belos artesanatos com arames retorcidos. Algo dentro de mim me instruiu e praticamente me forçou a encostar neles para olhar suas obras de arte.
Sentei próximo e comecei a ler um bom livro quando numa tentativa de venda dos artefatos um deles me chamou pra perto e iniciamos um breve triálogo (dialogo de 3), depois me sentei no lugar que estava e retomei a leitura. Enquanto lia, observava como todos pareciam reprovar os dois, passando em derredor, ficando afastados... até a senhora que distribuía um panfleto de uma ótica distribuiu a todos, exceto aos dois. Só uma senhora que vendia alguma guloseima foi ofertar a eles, bateu um papo lá... depois, o vendedor de jaca.
O tempo passou e surgiu a oportunidade de eu poder conversar com os dois... ficamos conversando por uns 30 minutos quando o ônibus chegou e eles embarcaram. Então comecei a pensar no porque somos tão mesquinhos, porque renegamos o diferente sem nem mesmo conhecer. Não precisam fazer nenhum mal contra nós, basta fugir das "regras sociais" tendo uma aparência diferente, um modo de pensar e de viver diferente que já os tomamos como inimigos.
Rastas, hippies, mendigos, loucos, anarquistas, feiticeiros, índios, negros... automaticamente os excluímos sem que eles façam absolutamente nada contra nós. E ainda temos coragem de frequentar igrejas, centros, terreiros... em busca do Supremo e, cada um em seu segmento, acha que estamos nos aproximando de D´us e nos tornamos semi-donos da verdade absoluta.
A verdade absoluta está dentro de nós e ao nosso redor, mas há muitos éons atras perdemos a capacidade de enxergá-la e nos ligamos a coisas que de nada valem, que não nos fazem evoluir em nada, a não ser na aparência deste mundo. Ninguém precisa estar na igreja nem no centro, não precisamos de mestres para nos ensinar magias nem nada... " Sois deuses e não sabeis". Quem passar a ser um observador dos sinais começará a ouvir os ensinamentos... as mensagens estão ao nosso redor a todo instante, nos ensinando sobre tudo ( não o tudo deste mundo, mas o tudo referente a existência dele e da força criadora dele) e quem souber ouvi-las se aproximará um pouco mais da compreensão do que não se pode compreender, porque Ele em sí só é um não ser ( é tão Supremo que não se limita a existência... a um ser...).
Não somos capazes de enxergar o próximo como uma pessoa a ser respeitada independente de sua aparência, e já tentamos entender como funcionam os buracos negros, como surgem e somem as estrelas e galáxias...
Não procure respostas e principalmente não tente dar respostas ou explicações, mas antes eleve o nível de suas perguntas e esteja atendo, porque as respostas já nos foram dadas.
Quanto mais eu busco explicações do que não é o Criador mais eu elevo a compreensão da sua essência e isto é o Ain soph [ilimitado].
04:23, o clarão do sol começa a aparecer no horizonte e agora o sono chegou, breve escreverei novamente.
PS: "Ame ao seu próximo como a ti mesmo"
PS2: "O amor é a lei... o amor sob vontade"
OBS: Aos críticos certinhos: As falhas gramaticais do nosso dialeto, a saber - o português, não são corrigidas propositalmente, pois neste blog o que impera é a liberdade, inclusive a liberdade de quebrar regras, até as gramaticais.
Igor Monteiro
93
Vida... termo utilizado por todo o mundo, mas que é tão sublime que nossa mente da maneira que foi criada não consegue dar uma definição... existem muitos conceitos do que seria vida, mas nenhum deles foi postulado.
Com o avanço do mundo moderno os padrões de "vida" mudaram, alimentos cada vez menos saudáveis, a tecnologia promovendo um sedentarismo tóxico em nome do conforto, a atmosfera cada vez mais in-respirável, etc...etc...etc... Com estes novos padrões de "vida"(?) doenças novas surgem, outras antigas se tornam mais frequentes e cada vez mais mortais.
Nossa inteligenzia nos permite ser o único ser que consegue prolonga-la, tentando tardar [inutilmente] a hora da morte, inutilmente porque conseguimos prolongar a "vida", mas sem qualidade, tendo que usar drogas tóxicas que atingem nosso organismos para tratar uma parte, e para não parecer que somos burros, nos enganamos chamando estas drogas de remédio.
Quando alguém passa por uma situação onde a morte vem com sua veste de cetim, beija-o na testa mas não o leva, este alguém passa a ser o maior divulgador da "vida", dizendo a todos que temos que amar a "vida" porque ela é bela... dizendo que não existe nada melhor que viver, blá... blá... blá...
SIM! a VIDA (não a "vida") é maravilhosa! Porém somos todos medíocres e egoístas.
Medíocres porque, apesar de não termos estabelecido um conceito sobre o que é vida, achamos que "vida" é a não "morte", é o fato de estar respirando, comendo e cagando, é o fato de conseguir metabolizar substancias, etc...
Egoístas porque dizemos que merecemos e que devemos viver, mas só pensamos em nós... humanos... como se apenas nós tivéssemos vida, nenhum outro ser existente na terra tem vida (ou merece tê-la).
Valorizemos a VIDA sim, porque é uma dádiva do Criador do Universo, um presente... mas valorizemos A VIDA e não A "Vida" HUMANA apenas. A mesma vida que habita em nós tem também os animais que nós maltratamos, "matamos", e judiamos covardemente em nome da "superioridade" humana. Também todos os seres "vivos" da natureza terrena, a barata, a cobra, o rato e o gato, são vivos. Só UM que distribuiu a vida no universo, de igual maneira, logo, estamos no mesmo grau de importância.
Quando olharmos para o próximo (humano) miserável, para o cachorrinho faminto, o gato manhoso, lembremo-nos que o mesmo D´us que nos fez viver deu esta dádiva a eles também. Tomemos consciência que não somos capazes de fazer viver (somos até usados para contribuir para a volta da vida em um ser, mas não de criar vida). Todo o horror, o pânico e o temor que sentimos quando estamos à beira da "morte" também sentem os animais, portanto, vamos rever alguns vários conceitos de superioridade e termos reverência a vida, seja ela em que forma tiver.
Até porque a VIDA como achamos que é está muito aquém do que ela realmente é, e o que julgamos ser "morte" talvez seja de fato o nascimento... o vestibular da existência, só que funciona como aqueles testes relâmpagos que a professora fazia na escolinha... a qualquer momento você pode ser testado, e se não tiver "afiado" no assunto perde na matéria.
Pratiquemos o amor (Ágape) a toda criatura viva, porque aí nos elevaremos em uma esfera da existência e talvez passemos no vestibular da morte.
"O amor é a lei, amor sob vontade"
Igor Monteiro
Escutar música é um ritual mágico... falo de música de verdade, que cumpre com a função ritualística de elevar a alma e nos colocar em transe sem o objetivo comercial simplesmente.
A Grande maioria não sabe, não enxerga, mas muitos são os bruxos da música, existem os bruxos que fazem as músicas (estes realmente merecem reverência) e os bruxos que apenas participam do ritual em busca da elevação espiritual. Um ritual para cada momento, o xamã interior em cada um dirige o processo mágico de escolha da música para determinado momento.
Inicia-se a cerimônia: as ondas sonoras da música raiz começam o processo do transe, preparando a mente para receber a mensagem, que pode ser direta ou indireta... A direta vem através da letra, a indireta, e mais poderosa, é a que é sussurrada no ouvido de dentro pra fora, eis o ensinamento. Quando o transe se aprofunda, reações involuntárias ocorrem no corpo físico... arrepios... lágrimas... balanço dos braços, pernas, quadril...extrema euforia...transcendência... em estado semi-lúcido observamos que uma força poderosíssima nos arrebata, nos conduz, nos ensina, conforta e relaxa.
Eis o culto mágico de invocação e evocação do primitivo contato divino com o todo da existência.
Assim como fizeram com todas as seitas, religiões, ordens e ritos, modificaram a música, faltaram com reverência no ritual sonoro e implantaram, segundo vontade própria e mesquinharia, ideais não nobres, fizeram do ritual sagrado uma orgia não sacra, transformaram a ferramenta mágica do som em lixo de enganação. Assim como existe Protestantismos sem essência, Catolicismo sem essência, Bruxaria sem essência, Magia sem essência... fizeram a música sem essência. Esta para mim é a pior, pois tiraram a essência de um ritual poderoso realizado em todo o mundo por homens e animais.
Mas como ocorre em todas as seitas, também no clã dos bruxos do som existe resistência e sabedoria, ainda existem magos que mantêm viva a celebração mágica da música e xamãs musicais que se rendem ao ritual com essência.
Enfim, entramos no processo cíclico de destruição de tudo... meio ambiente, educação, cultura e música... mas é um retorno ao caos necessário para a renovação.
Igor Monteiro
Ela, bastante formosa, com suas vestes verdes magníficas, suas barreiras coralíneas perfeitas, bastante riqueza em forma de preciosos minerais, sempre cuidou bem de seus filhos amados, dando-lhes o melhor e mais saudável alimento e a água mais cristalina que podia existir, nunca teve medo ou conhecimento de nenhum tipo de salteador.
Seus filhos banhavam-se em perfeitos chuveiros naturais em forma de lindas cascatas, todos os filhos podiam usar suas riquezas sem preocupação, sobretudo o ouro e estavam sempre em contato íntimo com seus animais de estimação, chegando até a amamentar a alguns e os mais selvagens os respeitavam porque também eram respeitados. Roupas? como era uma grande família e como os valores e conceitos eram puros, tais acessórios não eram necessários. Todos viviam em uma perfeita harmonia, é claro que como em toda família existiam verdadeiras guerras, mas a mãe supria a todos de forma indistinta.
Um dia receberam uma visita que iria mudar toda a sua história. Como sempre viveram em harmonia e de forma respeitosa, não desconfiaram que aqueles homens com aqueles objetos estranhos pudessem lhes fazer mal algum. Mas fizeram!
Em um ato de Atentado violento ao pudor e de estupro, os homens chegaram sem serem convidados, humilharam, mataram, estupraram suas filhas, e escravizaram a todos os filhos dela. Em pouco tempo começaram a rasgar (destruir) seu vestido verde, roubaram as riquezas que estavam em todo lugar (até o outro que habitava no leito dos rios), impuseram um casamento e novos enteados (muitos deles sequestrados de outra mãe de forma igualmente cruel).
Diante de tal desgraça, foi obrigada a se prostituir e, passando-se gerações e gerações, a cultura da prostituição moral ficou estabelecida entre seus filhos, agora todos mestiços, que de forma também cruel, a cada dia esquecem e ignoram (além de reprimir mais ainda) o remanescente dos filhos legítimos.
Conhecem esta mulher?
Ela é uma terra chamada Brasil, estuprada e maculada aos 22 de abril de 1500, data que iniciou também o processo de extinção de seus filhos legítimos, os índios. No Brasil o dia 19 de abril foi instituído o dia do índio [não sei pra quê tanto dia de coisas diferentes], acho que numa tentativa medíocre de dizer que estamos cientes do problema deles, tolice!
Os enteados da terra foram os escravos trazidos a força para trabalhar por aqui... vale ressaltar que os índios também foram escravizados, mas escreverei sobre eles em outro post, por merecerem uma atenção especial.
Ela tinha um nome que seus filhos amados chamavam, seu nome era [é] Pindorama. Com o atentado, passaram a chamar a vítima de Ilha de Vera Cruz, em 1500, modificando por diversas vezes seu nome: Terra Nova, em 1501; Terra dos Papagaios, 1501; Terra de Vera Cruz, 1503; Terra de Santa Cruz, em 1503; Terra Santa Cruz do Brasil, em 1505; Terra do Brasil, em 1505; e Brasil, desde 1527. A referência a Brasil veio da árvore chamada Pau Brasil, drasticamente explorada por ter boa madeira e para extração de tintura vermelha (a terra sangrando). E lá estavam eles, os portugueses (estes mais conhecidos, mas também foram os espanhóis os agressores) rasgando as vestes verde dela, deixando-a nua e vulnerável.
Enfim, se for para escrever toda a revolta, melhor escrever uma bíblia. O que me entristece mais é que, devido a cultura prostituta implantada em nós, continuamos a vender seu corpo de forma descarada, continuamos a ignorar nossos irmãos da terra e dar prioridade aos de fora, continuamos a despi-la, continuamos a escoar e secar suas lágrimas, continuamos...continuamos... continuamos...
Até quando?
Igor Monteiro